segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Horta Orgânica

Todo alimento orgânico é muito mais que um produto sem agrotóxicos. É o resultado de um sistema de produção agrícola que busca manejar de forma equilibrada o solo e demais recursos naturais (água, plantas, animais, insetos, etc.), conservando-os a longo prazo e mantendo a harmonia desses elementos entre si e com os seres humanos. Deste modo, para se obter um alimento verdadeiramente orgânico, é necessário administrar conhecimentos de diversas ciências (agronomia, ecologia, sociologia, economia, entre outras) para que o agricultor, através de um trabalho harmonizado com a natureza, possa ofertar ao consumidor alimentos que promovam não apenas a saúde deste último, mas também do planeta como um todo.

HORTA FAMILIAR OU ESCOLAR

Para implantação de uma horta orgânica em pequenas áreas pode-se considerar o calculo de 10 m2 por pessoa e que uma hora de trabalhos diários possibilita a manutenção até 100 m2 de área trabalhada.

Para início da produção é importante realizar um planejamento. Nele deve-se definir os espaços a serem utilizados e o tipo de produção pretendida. Descrevemos no item Instalação da horta, algumas instalações indispensáveis à implantação de uma horta orgânica.

O planejamento da produção se refere à escolha dos produtos pretendidos, verificando-se época de plantio, variedades adaptadas, escalonamento de produção, consórcios, ciclos das culturas, exigências e tratos culturais necessários, assuntos que trataremos mais adiante.

Em uma horta conduzida no sistema orgânico, e necessário inicialmente tomar conhecimento sobre dados regionais como clima, tipo de solo, proximidade com áreas florestadas, fauna existente, e outras. Todos estes fatores são relevantes para a condução de um plantio que deve interagir com o meio ambiente em que se insere.

O clima, por exemplo, é determinante na adaptação de certas culturas e deve ser levado em consideração na seleção de variedades. As diferenças entre estações, quanto a temperatura e pluviosidade devem ser verificados, servindo como base para um calendário de épocas de plantio.
O tipo de solo é o fator mais relevante a ser considerado para a produção. O solo deve ser encarado como um organismo vivo, que interage com a vegetação em todas as fases de seu ciclo de vida. Devem ser analisados os aspectos físico, químico e biológico dos solos.

O aspecto físico do solo se refere à sua textura e sua estrutura. A textura de um solo se relaciona ao tamanho dos grãos que o formam. Um solo possui diferentes quantidades de areia, argila, matéria orgânica, água, ar e minerais. A forma como estes componentes se organizam, representa a estrutura do solo. Um solo bem estruturado deve ser fofo e poroso permitindo a penetração da água e do ar, assim como de pequenos animais, e das raízes.

O aspecto químico se relaciona com os nutrientes que vão ser utilizados pelas plantas. Esses nutrientes, dissolvidos na água do solo (solução), penetram pelas raízes das plantas. No sistema orgânico de produção os nutrientes podem ser supridos através da adição de matéria orgânica e compostos vegetais.

O aspecto biológico trata dos organismos vivos existentes no solo, e que atuam nos aspectos físicos e químicos de um solo. A vida no solo só é possível onde há disponibilidade de ar, água e de nutrientes. Um solo com presença de organismos vivos indica boas condições de estrutura do solo. Os microorganismos do solo são os principais agentes de transformação química dos nutrientes, tornando-os disponíveis para absorção pelas raízes das plantas.

A matéria orgânica é um dos componentes de um solo e atua como agente de estruturação, possibilitando a existência de vida microbiana e fauna especifica, além de adicionar nutrientes à solução do solo.

Os solos no Brasil em geral são ácidos sendo recomendável, sempre, iniciar a correção do solo com a aplicação de calcário, de preferência o dolomítico que, além de conter cálcio, tem magnésio. O calcário deve ser aplicado dois meses antes do plantio.
No Brasil os solos também sofrem de deficiência de fósforo. De acordo com o resultado da amostra do solo é bom aplicar adubo fosfatado. As principais fontes de fósforo são farinha de ossos, hiperfosfato ou termofosfato.

Para esclarecer, existem dois tipos básicos de nutrientes:

Macronutrientes – Fósforo, potássio, nitrogênio, cálcio, magnésio e enxofre – estes são exigidos em maiores quantidades pelas plantas.

Micronutrientes – boro, cloro, cobre, cobalto, vanádio, sódio, ferro, manganês, molibdênio e zinco, são utilizados em quantidades ínfimas pelas plantas, mas possuem importância vital.

Alguns tipos de adubo orgânico fornecem nutrientes específicos, por exemplo, cinzas de madeira são ricas em potássio, cálcio e magnésio.

A proximidade com áreas florestadas é um fator que está relacionado ao equilíbrio ecológico regional de modo mais geral e, mais precisamente, à presença de espécies da fauna que podem interagir com o plantio. Aves e insetos são componentes da cadeia que vai ser gerada a partir de um plantio orgânico.

INSTALAÇÃO DE UMA HORTA

O local de instalação da horta deve ser de fácil acesso, maior insolação possível, água disponível em quantidade e próxima ao local. Não devem ser usados terrenos encharcados. O terreno pode ser plano, em áreas inclinadas os canteiros devem ser feitos acompanhando o nível, cortando as águas.

Os canteiros devem ser feitos na direção norte-sul, ou voltados para o norte para aproveitar melhor o sol.

No local da horta não é aconselhável a entrada de galinhas, cachorros, coelhos.

Dentro da horta deve haver uma pequena divisão de áreas para facilitar o manejo. Deve-se reservar uma área para sementeira; área de canteiro; área para guardar ferramentas e insumos; área para preparo ou armazenamento de composto ou húmus;

Recomenda-se que seja coletada uma amostra de solo e enviada para análise. O resultado de uma analise de solo representa as características do seu tipo de solo. Estes dados são a base para a recomendação correta de adubação, no presente caso adubação orgânica, necessária para obtenção de hortaliças saudáveis e resistentes.

A sementeira ocupa aproximadamente 1% da área da horta, deve ficar em local alto, seco e ensolarado. Pode também ser um canteiro comum, com cobertura contra sol e chuvas fortes.
A sementeira é usada para germinação das sementes de hortaliças que possam ser transplantadas. As sementes de hortaliças de modo geral são pequenas e exigem cuidados especiais como solo rico em nutrientes, peneirado, regas diárias, abundante mas não excessiva, sol indireto, profundidade correta de semeio.

Existem insumos prontos que facilitam o trato da sementeira, tais como substrato orgânico e bandejas de isopor para acondicionar as mudas com tamanhos e numero de células variáveis. As mudas podem ser produzidas em caixotes, em copos de café, ou ainda em um canteiro feito especialmente para este fim, de acordo com as condições descritas.

Os canteiros devem ser feitos com enxada, trabalhando-se a terra a uma profundidade de 40 a 50 cm. Este trabalho pode ser mecanizado. A profundidade da terra trabalhada tem relação com o desenvolvimento das raízes. Os canteiros podem ser simplesmente levantados em relação ao nível do solo, em 30 a 40 cm.

Os canteiros feitos com elevação do solo possuem drenagem natural, podem ser constantemente revirados, mas em solos arenosos não vão manter sua forma. Os canteiros podem também ser cercados por tijolos ou tabuas ou construídos em alvenaria. Ao construir canteiros é necessário estar atento para assegurar a drenagem deixando passagem para o excesso de água, o que inclui um dreno na parte inferior da parede do canteiro e uma camada de pedras, pequena a médias, recobrindo a totalidade do fundo. Canteiros construídos duram mais tempo.

As dimensões de um canteiro podem variar. A largura deve possibilitar o trabalho no canteiro de um só lado- onde alcance o braço- até 1 a 1,20 m.

O comprimento deve se adaptar à área disponível não devendo ultrapassar 10 metros, o que dificultaria a circulação entre os canteiros.

Entre canteiros devem ser deixadas ruas com 40 a 50 centímetros de largura para circulação. Caso se utilize carrinho de mão, deixar a largura necessária para a passagem.

Algumas ferramentas indispensáveis para uma horta são: carrinho de mão, enxada, enxadão, pá, ancinho, sacho, colher de muda, plantador, regador ou mangueira ou sistema de irrigação, tesoura de podar, barbante ou arame e pulverizadores.

Chama-se adubação orgânica o uso de material vegetal e animal utilizado como insumo na produção agrícola. A matéria orgânica, quando aplicada dentro das técnicas e sendo de boa qualidade é um dos principais agentes de estruturação dos solos. A aplicação de matéria orgânica no solo atua na estrutura do solo, na manutenção e desenvolvimento da vida microbiana do solo, no aporte de nutrientes. Um solo bem estruturado possui maior resistência à compactação e à erosão.

A adubação orgânica pode ser usada em forma de composto, húmus de minhoca, de esterco curtido, adubação verde com leguminosas ou outras. Ela é importante também para cobrir o solo em lugares muito quentes ou muito frios, protegendo as raízes e mantendo a umidade.

O uso de adubo orgânico nos plantios deve ser feito com material curtido. Uma terra desgastada deve receber, gradativamente, matéria orgânica suficiente para incentivar o retorno da fauna do solo.

A compostagem é uma técnica que facilita o manejo do esterco, reduz o volume de material, a perda de Nitrogênio e outros nutrientes após a aplicação; elimina sementes de ervas daninhas, insetos; conserva o esterco até que a aplicação seja necessária.

O nome composto vem da mistura de materiais usados em sua fabricação. Um composto bem feito possui matéria orgânica transformada em húmus e atua no solo como uma cola entre os pequenos pedaços de terra, melhorando sua estrutura e dá condições ao solo de armazenar maior quantidade de água, de ar, e de nutrientes, que alimentarão as plantas.

Caso não haja no local espaço suficiente para fazer uma composteira, você poderá adquirir o adubo orgânico já pronto para uso. Alguns exemplos: esterco de aves, farinha de ossos, torta de mamona, entre outros. Além disso, para permitir uma umidade ideal para seu solo, deve-se usar Vermiculita expandida, um excelente condicionador de solo.

O ideal é no primeiro ano usar 2 kg de composto por metro quadrado de canteiro. O canteiro poderá ser usado até três vezes num ano, repetindo-se o uso do composto em cada plantio.

Hortaliças são espécies vegetais cultivadas em pequenos espaços, em geral com ciclo curto de vida, exigentes em água e nutrientes. A reprodução das hortaliças pode ser através de sementes, brotos, ramas, bulbilhos.

Há sementes disponíveis no mercado de boa qualidade. Ao comprá-las é importante verificar os dados de validade, pureza e % de germinação. Como estas sementes são melhoradas geneticamente possuem características especificas como época de plantio e ciclo de colheita. Estas informações devem ser bem avaliadas. Por exemplo, há cenouras apropriadas para plantio de inverno e de verão.

As variedades devem ser escolhidas de acordo com as condições ambientais da área e plantio. Uma boa idéia é escolher duas variedades de uma hortaliça, plantá-las na mesma época e “pesquisar” sobre o desenvolvimento de cada uma delas. A escolha da melhor variedade está relacionada a: taxa de germinação, desenvolvimento da planta, resistência a ataque de pragas e doenças, produtividade, aspecto do produto final, sabor.

Em uma horta podem ser plantadas diferentes tipos de hortaliças. Como exemplo citamos alguns, agrupando-os pela parte comestível mais utilizada:

Raízes: Cenoura, rabanete, batata doce
Bulbos: alho, cebola, beterraba
Folhas: Alface, almeirão, chicória, couve, espinafre, repolho
Frutos: Berinjela, tomate, pepino, pimentão, jiló, quiabo, abóbora, feijão-vagem
Flores: Couve-flor, brócolis
Ervas: hortelã, manjericão, alecrim, mostarda, orégano, cebolinha, salsa, coentro

Existem bons calendários de plantio à disposição em livros de horticultura. Citaremos rapidamente um calendário de plantio:



É importante organizar o semeio de acordo com o que se pretende colher. Para isso devem-se analisar dados de cada cultura.

Por exemplo: alface tem ciclo que pode variar de 35 dias no verão a até 60 dias no inverno. Um canteiro com 5 metros de comprimento e 1,20 metros de largura resultam em 6 m2 de canteiro, o espaçamento da alface sendo de 25 x 25 cm, resulta em 96 plantas por canteiro. Se um canteiro for semeado em um único dia, haverá uma colheita de aproximadamente 96 pés em, no máximo, uma semana, uma vez que a alface tem ciclo curto e pode “passar” do ponto de colheita neste tempo.

Isto é diferente para outras culturas que podem permanecer bastante tempo no canteiro com a colheita estendendo-se por mais de um mês, como a couve, berinjela, cenoura, brócolis, jiló, cebolinha, salsa entre outras.

De acordo com o que se pretende colher, aconselha-se que sejam realizados plantios semanais de alface, chicória, ervilha, rúcula, rabanete.

Os tratos culturais necessários para a manutenção de uma horta serão descritos, e é necessário estar atento ao desenvolvimento de cada cultura no campo para se detectar o momento correto de serem aplicados.

Cuidados na sementeira – Na sementeira prepara-se a muda que vai para o campo. É uma época de muitos cuidados porque uma muda saudável gera um planta produtiva. Na sementeira a terra deve ser limpa de doenças e sementes de outras ervas para evitar doenças e competição; deve-se dar preferência a solos arenosos, onde a germinação das sementes é mais fácil e evita-se o encharcamento. A sementeira deve ser coberta para evitar a incidência direta de raios solares e chuva. A cobertura pode ser feita com palha, bambu, tela, plástico.

Transplantes – é a passagem da muda da sementeira para o canteiro e só pode ser realizada quando a planta já tem folhas definitivas e raiz desenvolvida. Não confundir as folhas definitivas com as primeiras folhas que surgem. A época de transplante varia para cada cultura, mas pode-se tomar como regra que a muda tenha entre 4 e 8 folhas definitivas.

Rega – A irrigação é responsável pelo aporte de água ao plantio. A água tem funções diversas como fornecer água para germinação da semente, desenvolvimento da planta, solubilizar os nutrientes do solo para disponibilizá-los para as plantas. Existem vários tipos de irrigação; em pequenas áreas recomenda-se o uso de mangueira, regador ou ainda sistema de irrigação por aspersão. Plantas de ciclo curto e pequeno porte são mais sensíveis à falta de água. A fase de sementeira exige regas diárias, sendo aconselhável que seja feita duas vezes ao dia. A irrigação deve ser realizada, sempre, nas horas mais frescas do dia. Uma forma de determinar a necessidade de rega é verificar qual a umidade do solo a uma profundidade media de 10 cm.

Rotação de culturas – ao planejar um canteiro, deve-se evitar o plantio sucessivo de uma mesma cultura, assim como plantas da mesma família. A rotação reduz a chance de aparecerem doenças e pragas e possibilita um melhor aproveitamento dos nutrientes disponíveis. Uma boa seqüência a ser utilizada é: folha, raiz, flor, fruto (exemplo: alface, cenoura, brócolis, berinjela). Este método possibilita ainda o plantio sem necessidade de refazer o canteiro, utilizando-se apenas adubação de plantio.

Cobertura morta – utilizada para proteger o solo contra a chuva e o sol. Nos solos argilosos evita formação de crostas duras na superfície. Em solos arenosos aumenta a retenção de água no solo. Também evita a presença de ervas invasoras. Pode ser feita com palha, capim cortado, casca de arroz ou outro material disponível. Não deve ser incorporado ao solo.

Controle de ervas – as ervas invasoras tem aspectos positivos e negativos para o desenvolvimento da cultura. São positivos a atração de insetos, a cobertura do solo, a produção de massa verde que pode ser usado na compostagem. São negativos a competição por água e nutrientes e insolação. As ervas devem ser controladas quando se verificar competição (exemplo, o mato está mais alto que a cultura plantada).
Adubação verde – consiste no plantio de leguminosas junto, ou antes, da cultura pretendida. A adubação verde melhora o solo, trazendo nutrientes de partes mais profundas, elimina nematódeos, cobre o solo com muita massa verde e incorpora ao solo o nitrogênio que as leguminosas captam do ar. Tipos de leguminosas mais usados: guandu, mucuna-preta, mucuna-anã, feijão de porco, puerária e leucena. Estas plantas podem ser usadas em rotação nos canteiros, associadas ao milho ou em terras em descanso. Podem ainda ser aproveitadas para alimentação animal, humana (guandu) e como lenha (guandu). Em solos compactados convém anteceder o plantio da horta com cultivo de leguminosas.

Desbaste – no plantio definitivo é necessário diminuir o número de plantas no canteiro possibilitando um maior desenvolvimento das plantas que ficam.

Amontoa – juntar terra no pé das plantas (para couve, brócolis, beterraba, rabanete e outras).

Estaqueamento - suporte para plantas trepadeiras; usado para ervilha, feijão vagem, tomate, pepino. Pode também utilizar a cerca da horta ou pés de milho já colhidos.

Controle de pragas – considera-se praga o ataque de inseto que cause danos sérios a plantação ou reduza a produção. Não há necessidade de controle enquanto não há dano. Os ataques podem ainda ser minimizados com a rotação de culturas, plantas bem nutridas, presença de inimigos naturais (joaninha, pássaros). O controle pode ser feito através de produtos como óleo de neem ou pó de fumo.

COLHEITA e ARMAZENAMENTO

A colheita é uma atividade que varia de acordo com a cultura. A colheita de frutos é feita quando estes estão maduros, de vez, ou dependendo do produto, ainda verdes. Folhas podem ser colhidas através da retirada total da planta ou de algumas folhas apenas.

Os melhores horários de colheita são os de temperatura mais baixa quando os vegetais perdem menos água, o ideal é antes do sol forte, para folhas; e no final da tarde para raízes.
Após a colheita as hortaliças continuam perdendo água o que pode levar ao murchamento ou desidratação do seu produto. Conservar os produtos em locais frescos mantendo-os úmidos é a melhor forma de conserva-los. Em locais frios ou geladeira os alimentos se conservam melhor.

Para melhor apresentação, conservação e higiene as verduras devem ser lavadas em água corrente e retirados todos os restos de terra, folhas secas, ou outras impurezas.
Controle Agroecológico de Pragas e Doenças

Manejo Integrado de Pragas (MIP) e os Métodos Agroecológicos

O que é melhor curar? A febre ou a doença que a provoca? Responder a essa pergunta significa optar pelo tratamento do efeito (a febre) ou da causa (doença) de um determinado problema. Assim como no corpo humano habita uma série de microorganismos que coexistem pacificamente conosco, na lavoura esses organismos também se encontram no solo, nas plantas e nos organismos dos animais. Só quando o corpo e a agricultura se tornam fracos e desequilibrados em seu metabolismo, é que esses organismos oportunistas atacam, tornando-se um problema. Isso significa que a origem do problema não é a existência desses organismos, mas o desequilíbrio presente ou no corpo humano ou no ambiente agrícola.

Na agricultura convencional, as práticas de campo se direcionam para o efeito do desequilíbrio ecológico existente. Este desequilíbrio gera a reprodução exagerada de insetos, fungos, ácaros e bactérias, que acabam se tornando "pragas e doenças" das lavouras e das criações de animais. Aplicam-se agrotóxicos nas culturas, injetam-se antibióticos e outros remédios nos animais buscando exterminar esses organismos. Contudo, o desequilíbrio quer seja no metabolismo de plantas e animais, quer seja na constituição físico-química e biológica do solo permanece. E permanecendo a causa, os efeitos (pragas e doenças) cedo ou tarde reaparecerão, exigindo maiores frequências de aplicação ou maiores doses de agrotóxicos num verdadeiro "círculo vicioso".
Na agricultura orgânica, por sua vez, trabalha-se no sentido de estabelecer o equilíbrio ecológico em todo o sistema. Parte-se da melhoria das condições do solo, que é a base da boa nutrição das plantas que, bem nutridas, não adoecerão com facilidade, podendo resistir melhor a algum ataque eventual de um organismo prejudicial. Cabe destacar o termo "eventual" porque num sistema equilibrado, não é comum a reprodução exagerada de organismos prejudiciais, visto que existem no ambiente inimigos naturais, que naturalmente irão controlar a população de pragas e doenças.

Desta forma, partindo da prevenção e do ataque às causas geradoras de desequilíbrio metabólico em plantas e animais, os métodos agroecológicos de manejo de tais organismos se tornam bem sucedidos à medida em que encaram uma propriedade do mesmo modo que um médico deveria olhar para uma pessoa: como um "organismo", uma individualidade única e repleta de interações dinâmicas e em constante mudança.

Diferença entre o Manejo Integrado de Pragas (MIP) e os Métodos Agroecológicos

O Manejo Integrado de Pragas (conhecido como MIP), constitui um plano de medidas voltadas para diminuir o uso de agrotóxicos na produção convencional, buscando otimizar o uso desses produtos no sistema. O princípio da agricultura convencional de atacar apenas os efeitos, permanece à medida em que todas as práticas se voltam para o controle de pragas e doenças e não para o equilíbrio ecológico do sistema. Contudo, existe uma preocupação em se utilizar agrotóxicos apenas quando a população desses organismos atingir um nível de dano econômico (em que as perdas de produção gerem prejuízos econômicos significativos), diminuindo a contaminação do ambiente com tais produtos.

Já os métodos agroecológicos buscam aplicar o princípio da prevenção, fortalecendo o solo e as plantas através da promoção do equilíbrio ecológico em todo o ambiente. Seguindo essa lógica, o controle agroecológico de insetos, fungos, ácaros, bactérias e viroses é realizado com medidas preventivas tais como:

• Plantio em épocas corretas e com variedades adaptadas ao clima e ao solo da região.
• Fazer uso da adubação orgânica.
• Rotação de culturas e adubação verde.
• Cobertura morta e plantio direto.
• Plantio de variedades e espécies resistentes às pragas e doenças.
• Consorciação de culturas e manejo seletivo do mato.
• Evitar erosão do solo.
• Fazer uso de adubos minerais pouco solúveis admitidos pela Instrução Normativa.
• Uso de plantas que atuem como "quebra ventos" ou como "faixas protetoras".
• Nutrição equilibrada das plantas com macronutrientes e micronutrientes.
• Conservação dos fragmentos florestais existentes na região.

Entretanto, cabe ressaltar que algumas das estratégias usadas no Manejo Integrado de Pragas, que visa a diminuição do uso de agrotóxicos nas lavouras, podem ser adotadas pelos produtores orgânicos. Vejamos, a seguir, tais estratégias com mais detalhes:

Estratégias para o Manejo Agroecológico de Pragas e Doenças

1 - Reconhecimento das pragas-chave da cultura:


Consiste em identificar qual o organismo que causa maior dano à cultura. Por exemplo, no caso do algodão, o bicudo constitui o inseto mais importante no elenco de organismos que prejudicam a cultura. Na cultura da banana os principais organismos são fungos, responsáveis pelo "Mal de Sigatoka" e pelo "Mal do Panamá"
Conhecer a praga-chave de cada cultura ajudará o agricultor a adotar práticas que incentivem a reprodução de seus principais inimigos naturais, ou que criem condições ambientais desfavoráveis à multiplicação do organismo indesejável

2 - Reconhecimento dos inimigos naturais da cultura:

Diversos insetos, fungos e bactérias podem atuar beneficamente como agentes de controle biológico das principais pragas e doenças e, o que é melhor, de forma gratuita na medida em que ocorrem naturalmente no ambiente. Conhecer as principais espécies e favorecê-las através de diversas práticas (manejo do mato nativo, adubação orgânica, preservação de fragmentos florestais, entre outros), é uma estratégia fundamental para o sucesso do controle de pragas e doenças na agricultura agroecológica.

3 - Amostragem da população dos organismos prejudiciais:

Monitorar a presença das pragas através da contagem de ovos, largas e organismos adultos (no caso de insetos), ou da vistoria das plantas (% de dano em caso de doenças fúngicas ou bacterianas), é uma atividade obrigatória para que o produtor saiba quando agir e o faça de modo a promover o equilíbrio ecológico de todo o sistema de produção.

4 - Escolher e utilizar as táticas de controle:

Mesmo promovendo o equilíbrio do sistema, a persistência de determinadas pragas e doenças no ambiente é comum e nem sempre basta a adoção apenas de medidas preventivas. A traça do tomateiro (Tuta absoluta ), a requeima da batata (Phytophora infestans) são exemplos desse caso. Assim, quando existem ameaças destes organismos promoverem um dano econômico às culturas agroecológicas, será necessário ao agricultor adotar práticas "curativas". Tais práticas atuam como "remédios" para as plantas, como o uso das caldas bordalesa ou sulfocálcica, por exemplo.

Plantas Companheiras

São plantas pertencentes a espécies ou famílias, que se ajudam e complementam mutuamente, não apenas na ocupação do espaço e utilização de água, luz e nutrientes, mas também por meio de interações bioquímicas chamadas de Efeitos Alelopáticos. Estes podem ser tanto de natureza estimuladora quanto inibidora, não somente entre plantas, mas também em relação a insetos e outros animais.

Seguem alguns exemplos:

As plantas da família das solanáceas (tomate, batata, pimentão, entre outras) e as da família das compostas (Cichoriaceae), como alfaces e chicórias combinam bem entre si. Estas famílias, por sua vez, também combinam com umbelíferas (Apiaceae) como cenoura, salsa, aipo, erva-doce, batata-salsa e com Liliáceas como o alho e a cebola.
As cuburbitáceas (abóbora, pepino, melão, melancia, chuchu) associam-se bem com as solanáceas, com plantas leguminosas(feijão, ervilha) e gramíneas(milho, trigo), conforme seu hábito de crescimento e forma de cultivo; alternado-se fileiras -duplas tutoradas, por exemplo, de tomate, feijão-vagem e pepino, ou na tradicional associação de milho, feijão e abóbora.

A regra geral para uma boa associação ou rotação de culturas é a de escolher sempre uma sequência de plantas de famílias diferentes.


Alelopatia Aplicada

Em relação aos insetos prejudiciais, algumas plantas têm ação repelente ou atrativa. Ambos efeitos podem ser utilizados nos exemplos a seguir:

Plantas Antagônicas

Algumas espécies possuem substâncias que afastam ou inibem a ação de insetos, como ocorre, por exemplo, com o piretro, presente no cravo-de-defunto e nos crisântemos. Como qualquer estratégia de manejo agroecológico, o uso de tais plantas não deve ser feito isoladamente e, sim, dentro de uma visão abrangente de promoção do equilibro ecológico em toda a propriedade agrícola. Quanto mais equilibrados estiverem o solo, as plantas e os animais, menor será a necessidade de se apelar para tais estratégias, aproximando a produção orgânica da situação ideal que é a de pouco intervir porque agroecossistema já se tornou capaz de se auto-regular.

a) Cravo-de-defunto (Tagetes minuta) e ou Cravorana (Tagetes sp) silvestre.As plantas inteiras, principalmente no florescimento, são boas repelentes de insetos e nematóides (no solo). Usadas em bordadura das culturas ou em pulverizações na forma de extratos alcoólicos, atuam tanto por ação direta contra as pragas, quanto por "disfarce" das culturas pelo seu forte odor.
Fórmula Geral: 200 gramas de planta verde, mascerados por 12 (doze) horas em álcool (aproximadamento 1 litro) e diluídos em 18 a 19 litros de água (20 litros para pulverização)

b) Cinamomo (Melia azedorach L., família Meliaceae)O chá das folhas e o extraído acetônico-alcoólico dos frutos (ambos na dosagem média de 200 gramas para um volume final de 20 litros para pulverização) são inseticidas. Os frutos devem ser moídos e seu pó pode ser usado na conservação de grãos armazenados.
Observação: É uma árvore ornamental comum no sul do Brasil, de origem asiática.

c) Saboneteira ( Sapindus saponaria L.)Árvore nativa da América Tropical, usada como ornamental , possui nos frutos um efeito inseticida. Para se ter uma idéia de seu poder de ação, vale mencionar que seis frutos bastam para preservar 60 quilos de grãos armazenados.
Os estratos podem ser feitos dos frutos amassados diretamente em água (uso imediato) ou conservados por extração acetônica e/ou alcoólica. Em ambos os casos, 200 gramas são suficientes para o volume de 20 litros de um pulverizador costal.

d) Quássia ou Pau-amargo (Quassia amara, família Simarubaceae)Arbusto alto, nativo da América Central, com ação inseticida especialmente contra moscas e mosquitos, pelo alto teor de substâncias amargas na casca e madeira. Estas partes podem ser usadas em pó ou extrato acetônico-alcoólico, assim como os ramos e folhas, variando apenas a concentração: 200 gramas de cascas ou madeira moída.

e) Mucuna-preta (Mucuna sp ou Stizolobium oterrium)Plantada associada ao milho, evita mais de 90% da instalação dos gorgulhos nas espigas

Atrativos ou "Plantas-Armadilhas"

Muitas plantas possuem substâncias atrativas específicas para alguns insetos, que podem ser utilizadas como plantas-armadilha para várias pragas. A simples concentração dessas pragas já as torna mais vulneráveis a parasitas e predadores, assim como mais sujeitas a doenças, permitindo também a utilização de métodos agroecológicos de manejo de pragas e doenças.

Seguem alguns exemplos de plantas atrativas de comprovada utilidade na horticultura:

Purungo ou Cabaça (Lagenaria vulgaris)Plantado em bordadura (em forma de cercas-vivas) ou com seus frutos cortados e espalhados na lavoura é o melhor atrativo para o besourinho ou vaquinha verde-amarela (Diabrotica speciosa).

Tajujá (Cayaponia tayuya)Planta da família das cucurbitáceas, atrativa para as vaquinhas. Sua limitação consiste no fato de que as raízes que são a parte mais útil da planta, são de cultivo mais difícil que o do Purungo.

Adriane C. Baccaro
Engª Agrônoma
Boutin Campo e Jardim
(41) 3027-5133

Compostagem

1) Compostagem e Composto: definição e benefícios

A compostagem é o processo de transformação de materiais grosseiros, como palhada e estrume, em materiais orgânicos utilizáveis na agricultura. Este processo envolve transformações extremamente complexas de natureza bioquímica, promovidas por milhões de microorganismos do solo que têm na matéria orgânica in natura sua fonte de energia, nutrientes minerais e carbono.
Por essa razão uma pilha de composto não é apenas um monte de lixo orgânico empilhado ou acondicionado em um compartimento. É um modo de fornecer as condições adequadas aos microorganismos para que esses degradem a matéria orgânica e disponibilizem nutrientes para as plantas.

Mas, o que é exatamente o composto?

Dito de maneira científica, o composto é o resultado da degradação biológica da matéria orgânica, em presença de oxigênio do ar, sob condições controladas pelo homem. Os produtos do processo de decomposição são: gás carbônico, calor, água e a matéria orgânica "compostada".

O composto possui nutrientes minerais tais como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre que são assimilados em maior quantidade pelas raízes além de ferro, zinco, cobre, manganês, boro e outros que são absorvidos em quantidades menores e, por isto, denominados de micronutrientes. Quanto mais diversificados os materiais com os quais o composto é feito, maior será a variedade de nutrientes que poderá suprir. Os nutrientes do composto, ao contrário do que ocorre com os adubos sintéticos, são liberados lentamente, realizando a tão desejada "adubação de disponibilidade controlada". Em outras, palavras, fornecer composto às plantas é permitir que elas retirem os nutrientes de que precisam de acordo com as suas necessidades ao longo de um tempo maior do que teriam para aproveitar um adubo sintético e altamente solúvel, que é arrastado pelas águas das chuvas.

Outra importante contribuição do composto é que ele melhora a "saúde" do solo. A matéria orgânica compostada se liga às partículas (areia, limo e argila), formando pequenos grânulos que ajudam na retenção e drenagem da água e melhoram a aeração. Além disso, a presença de matéria orgânica no solo aumenta o número de minhocas, insetos e microorganismos desejáveis, o que reduz a incidência de doenças de plantas.

Na agricultura agroecológica a compostagem tem como objetivo transformar a matéria vegetal muito fibrosa como palhada de cereais, capim já "passado", sabugo de milho, cascas de café e arroz, em dois tipos de composto : um para ser incorporado nos primeiros centímetros de solo e outro para ser lançado sobre o solo, como uma cobertura. Esta cobertura se chama "mulche" e influencia positivamente as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Dentro os benefícios proporcionados pela existência dessa cobertura morta no solo, destacam-se:

Dentro os benefícios proporcionados pela existência dessa cobertura morta no solo, destacam-se:

Estímulo ao desenvolvimento das raízes das plantas, que se tornam mais capazes de absorver água e nutrientes do solo.
• Aumento da capacidade de infiltração de água, reduzindo a erosão.
• Mantém estáveis a temperatura e os níveis de acidez do solo (pH).
• Dificulta ou impede a germinação de sementes de plantas invasoras (daninhas).
• Ativa a vida do solo, favorecendo a reprodução de microorganismos benéficos às culturas agrícolas.

2) Aprendendo a fazer a compostagem

Muitas pessoas acreditam que um bom composto é difícil de ser feito ou exige um grande espaço para ser produzido; outras acreditam que é sujo e atrai animais indesejáveis. Se for bem feito, nada disto será verdadeiro. Um composto pode ser produzido com pouco esforço e custos mínimos, trazendo grandes benefícios para o solo e as plantas. Mesmo em um pequeno quintal ou varanda, é possível preparar o composto e, desta forma, reduzir a produção de resíduos inclusive nas cidades. Por exemplo, com restos das podas de parques e jardins se produz um excelente composto para ser utilizado em hortas, na produção de mudas, ou para ser comercializado como adubo para plantas ornamentais. Desta forma, são obtidos dois ganhos ao mesmo tempo: com a produção do composto propriamente dita e um benefício indireto que é a redução de gastos de transporte e destinação do lixo orgânico produzido pela comunidade local.

Outro engano muito comum é mandar para a lata do lixo partes dos alimentos que poderiam ir para o prato: folhas de muitas hortaliças (como as da cenoura e da beterraba), talos, cascas e sementes são ricas fontes de fibra e de vitaminas e minerais fundamentais para o bom funcionamento do organismo. O que comprova que a melhoria da saúde tanto de famílias ricas ou pobres pode ser conseguida como medidas simples como o reaproveitamento integral de alimentos, e o desenvolvimento de bons hábitos de vida e nutrição.

Todos os restos de alimentos, estercos animais, aparas de grama, folhas, galhos, restos de culturas agrícolas, enfim, todo o material de origem animal ou vegetal pode entrar na produção do composto.

Contudo, existem alguns materiais que não devem ser usados na compostagem, que são:

• madeira tratada com pesticidas contra cupins ou envernizadas.
• vidro, metal, óleo, tinta, couro, plástico e papel, que além de não serem facilmente degradados pelos microorganismos, podem ser transformados através da reciclagem industrial ou serem reaproveitados em peças de artesanato.

A fabricação do composto imita este processo natural, porém com resultado mais rápido e controlado. A seguir, serão descritos os materiais e as etapas para a elaboração das pilhas de composto numa propriedade rural.

Materiais para fazer o composto

• Esterco de animais.
• Qualquer tipo de plantas, pastos, ervas, cascas, folhas verdes e secas
• Palhas
• Todas as sobras de cozinha que sejam de origem animal ou vegetal: sobras de comida, cascas de ovo, entre outros.
• Qualquer substância que seja parte de animais ou plantas: pêlos, lãs, couros, algas.

Observação: Quanto mais variados e mais picados (fragmentados) os componentes usados, melhor será a qualidade do composto e mais rápido o término do processo de compostagem.


Modo de preparo das pilhas de composto

Escolha do local: deve-se considerar a facilidade de acesso, a disponibilidade de água para molhar as pilhas, o solo deve possuir boa drenagem. Também é desejável montar as pilhas em locais sombreados e protegidos de ventos intensos, para evitar ressecamento.

Iniciar a construção da pilha colocando uma camada de material vegetal seco de aproximadamente 15 a 20 centímetros, com folhas, palhadas, troncos ou galhos picados, para que absorva o excesso de água e permita a circulação de ar.

Terminada a primeira camada, deve-se regá-la com água, evitando encharcamento e, a cada camada montada, deve-se umedecê-la para uma distribuição mais uniforme da água por toda a pilha.

Na segunda camada, deve-se colocar restos de verduras, grama e esterco. Se o esterco for de boi, pode-se colocar 5 centímetros e, se for de galinha, mais concentrado em nitrogênio, um pouco menos.

Novamente, deposita-se uma camada de 15 a 20 cm com material vegetal seco, seguida por outra camada de esterco e assim sucessivamente até que a pilha atinja a altura aproximada de 1,5 metros. A pilha deve Ter a parte superior quase plana para evitar a perda de calor e umidade, tomando-se o cuidado para evitar a formação de "poços de acumulação" das águas das chuvas.

Vale lembrar que durante a compostagem existe toda uma sequência de microorganismos que decompõem a matéria orgânica, até surgir o produto final, o húmus maduro. Todo este processo acontece em etapas, nas quais fungos, bactérias, protozoários, minhocas, besouros, lacraias, formigas e aranhas decompõem as fibras vegetais e tornam os nutrientes presentes na matéria orgânica disponíveis para as plantas.

Além disso, o processo da compostagem traz em si, outros resultados que favorecerão o posterior desenvolvimento das culturas agrícolas no campo, tais como:

3)Manutenção, cuidados e verificando a maturidade do composto

Durante os primeiros dias, em função da decomposição da matéria orgânica e do acamamento do material, a pilha pode ter seu volume reduzido até um terço do inicial, tornando as camadas inferiores mais densas. Para descompactar essa camada, recomenda-se fazer o revolvimento da pilha, usando pás e enxadas.

Cabe lembrar que o revolvimento manual da pilha dá trabalho e deve ser feito de acordo com a disponibilidade de mão-de-obra do local. O ideal é que sejam feitos pelo menos três revolvimentos no primeiro mês de compostagem, aos 7, 17 e 30 dias, aproximadamente. Nessas datas, deve-se aproveitar para verificar a umidade da pilha e, caso seja necessário, irrigar o material para torná-lo úmido mas não encharcado.

É importante manter sempre a umidade adequada, entre 40% e 60%, ou seja, de modo que quando aperte um punhado composto na mão pingue, mas não escorra água. No período sem chuvas, deve-se cuidar para que não seque, regando por cima, cada dia um pouco. Se ocorrerem chuvas fortes e por um longo período, é bom cobrir o composto enquanto chove com plásticos seguros por tijolos ou pedras. O reviramento da pilha faz perder o excesso de umidade.

No verão, se o composto estiver a pleno sol, é bom cobri-lo com folhagens para evitar o excesso de evaporação de água.

Uma vez que a pilha de composto foi montada, não se deve acrescentar novos materiais. Pode-se começar a juntá-los novamente no lugar destinado a fazer as próximas pilhas de composto.
Se o material colocado na pilha estiver dentro das proporções corretas, se as demais condições de umidade, temperatura e aeração forem atendidas e houver os revolvimentos periódicos da pilha, o composto estará pronto para uso em um prazo que varia de 60 a 90 dias. Uma vez pronto, ou seja, quando o composto estiver maduro, ele não deve ficar exposto à ação do tempo. Enquanto não for utilizado, deve permanecer umedecido e protegido do sol e da chuva.

Uma forma simples de se verificar a maturação do composto é misturando uma porção dele em um copo de água. Vai ocorrer um desses fenômenos.


O líquido, após revolvido, fica escuro como se fosse uma tinta preta e tem partículas em suspensão, mostrando que o composto está curado, pronto para uso.
A água não foi colorida pelo material colocado e ele se depositou no fundo do copo, indicando que o processo de compostagem ainda não terminou e deve-se esperar mais para se utilizar o composto.

4)Composteira: solução para fazer a compostagem em pequenos espaços.

Embora a compostagem em pilhas apresente a vantagem de não exigir equipamento especial, apenas algumas ferramentas como pás e enxadas, por exigir amplos espaços e volumes relativamente grandes de resíduos animais e vegetais, seu uso fica restrito às propriedades rurais, não podendo ser praticada por quem dispõe de um quintal na cidade, por exemplo.

Contudo, essas limitações de espaço e de quantidade de resíduos não impedem quem deseja
reciclar seus resíduos orgânicos de realizar a compostagem. O uso de composteiras é indicado para quintais, varandas de apartamentos ou mesmo garagens, pois ocupam uma superfície pequena quando comparadas à pilha de composto aberta.

A composteira mais conhecida atualmente é uma caixa de madeira sem fundo nem tampa desenvolvida na década de 1940, na Nova Zelândia. A caixa neozelandeza tem um tamanho padrão: 1 metro por 1 metro na base e também 1 metro de altura, permitindo a circulação de ar pelas laterais.Quando cheia, ela pode ser desmontada e montada novamente ao lado da posição anterior, porque suas paredes laterais são removíveis. Ao transferir a matéria orgânica de uma posição para outra, a pessoa estará fazendo o revolvimento do material. Pode-se também contruir duas ou três caixas simultaneamente, para que a matéria orgânica seja transferida de uma caixa para outra. Em hortas domésticas ou jardins, o tempo para o enchimento da caixa pode ser de um mês ou mais.

Uma outra opção interessante para quem possui um quintal ou espaços de até 1 ha, é a composteira feita com cesto telado, que nada mais é do que um cilindro formado com tela plástica ou de galinheiro, dessas que se encontram em casas de material para horticultura e jardinagem. As vantagens do cesto telado é ser leve, resistente e não enferrujar.

"O mais importante em uma composteira, independentemente do tamanho e forma, é que ela permita a circulação de ar e comporte cerca de 1 metro cúbico de resíduos".
Essas regras limitam as dimensões da composteira de cesto telado:

• Se for muito alta (mais de 1,5 m), o peso do material deixará a base compactada demais, dificultando o revolvimento e impedindo uma aeração adequada.
• Se tiver menos de 1 metro de altura ou de largura, perderá calor e umidade.
• Se a largura ultrapassar 1,5 metro, o ar não penetrará no interior do composto.

De acordo com as disponibilidades de materiais e a criatividade de cada um, podem ser construídos outros tipos de recipientes para compostagem, desde que se respeitem as regras anteriormente citadas. As vantagens de se construir a própria composteira são a economia de dinheiro e o aproveitamento de materiais disponíveis ou de fácil acesso na região. O importante é começar, pois uma vez experimentados os benefícios da compostagem, quem a realiza não deseja mais parar.

Adriane C. Baccaro
Engª Agrônoma
Boutin Campo e Jardim
(41) 3027-5133

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Poda de Citros

As plantas cítricas, laranjeira, tangerineira, mexeriqueira, limeira, limoeiro, etc, apresentam crescimento mais lento que a maioria da plantas até agora estudados, e possuem uma tendência de fechamento de copa e suas folhas não caem por ocasião da chegada do frio, ou seja, as plantas não entram em dormência. Daí suas podas serem diferenciadas.
As podas que devemos realizar em plantas cítricas são:
- de formação – quando são mudas de 1º ano, onde procuramos “limpar” o interior da copa da planta, eliminado ramos com crescimento muito vigoroso para cima e voltados para o interior da copa, eliminamos também qualquer sinal de frutos porque nesta época somente roubariam energia da planta.
- de limpeza – a partir do 2º ano, durante a fase da planta em que não está frutificando nos meses frios, eliminamos ramos cruzados, voltados para dentro, paralelos, e ramos que apresentam algum sintoma de doenças e pragas (rubelose, leprose, brocas, pulgões e cochonilhas).
Então, como vimos, somente realizamos podas nas plantas cítricas caso seja necessário algum manejo de limpeza do interior da sua copa ou algum ataque de pragas ou doenças.

Adriane C. Baccaro
Engª Agrônoma
Boutin Campo e Jardim
(41) 3027-5133

Poda do Caquizeiro

As plantas de caquizeiro são muito sensíveis ao transplante e demoram muito a recuperarem seu poder de crescimento. Por isso, principalmente o primeiro ano de desenvolvimento, os ramos são pequenos e necessitam de encurtamento para estimular brotações mais fortes e mais ramificações. Então após transplante não realizamos nenhum manejo de poda na planta e com um ano de idade encurtamos seus ramos.


Nas podas do 2º ano, onde já as brotações estão mais vigorosas, eliminamos ramos indesejáveis, ou seja, aqueles com crescimento muito vigoroso para cima, voltados para dentro da copa, entrecruzados, paralelos, etc, estimulando a abertura da copa, e nunca mais despontar os ramos, pois no caso do caqui são produtivos aqueles que se formam no ano em cima dos ramos do ano anterior, portanto possui frutificação muito semelhante ao da figueira e videira.



Do terceiro ano em diante, a tendência do caquizeiro em fechar a copa é evidente e necessita de manejos de poda visando melhorar a estrutura dos ramos, então a condução e eliminação de ramos indesejáveis continua. Porém, também devemos conduzir os ramos visando aumentar seu potencial produtivo, nunca despontar os ramos, ocorre um super ramificação em cima dos ramos do ano anterior, deve-se realizar um raleio dos ramos do ano anterior antes que este fato aconteça.

Poda da Macieira

A macieira é uma planta que apresenta uma condição especial, principalmente no início do seu desenvolvimento e por ocasião de seu florescimento, pois sofre influência direta, no caso de quebra da sua dormência, caso não ocorra quantidades e intensidades de frio suficiente durante o inverno.
Portanto, por ocasião do plantio, se torna necessário que as mudas tenham sido expostas durante pelo menos 40 dias a temperaturas baixas, naturalmente ou em câmaras frias para que esta dormência seja quebrada. Caso estes fatores não tenham ocorrido, o procedimento obrigatório, com a muda plantada durante os meses de inverno, é realizar incisões em forma de ferradura (anelamento) retirando a camada superficial da casca da planta logo acima de 6 a 8 gemas em espiral na planta. Este procedimento “obriga” a quebra da dormência destas gemas, garantindo a brotação deste ramos que sofreram a incisão.
Após a formação da copada as podas de condução são as mesmas das verificadas na ameixeira e pessegueiro, podendo ser conduzida em taça eliminando o pião central.
Mas no caso da macieira a condução da planta pode favorecer o desenvolvimento de um ramo central líder que será a base para a formação de mais dois andares de copa destinados à produção.
Com relação à condução em taça já está estabelecido nas explicações de condução do pessegueiro e ameixeira.
Então, para a condução em guia modificado, que é a manutenção do guia central, na 1º poda faremos o mesmo manejo de eliminar qualquer ramo indesejado, deixando três a quatro pernadas que formarão o primeiro andar produtivo da planta, um ramo central que terá crescimento para cima é deixado e continua seu crescimento para, no ano seguinte, formar o segundo andar produtivo da planta.


Para o segundo ano de desenvolvimento, sempre visando à bifurcação dos ramos e a formação das taças, podamos tanto a primeira quanto a segunda copadas, eliminando ramos indesejáveis, ou seja, entrecruzados, com crescimento vigoroso para cima, paralelos, voltados para baixo, etc, e o último ramo superior, da segunda copada novamente é deixado para a formação do terceiro andar das copas da planta.


Neste terceiro andar da planta, as podas são mínimas desde o início de seu desenvolvimento, cortando somente os poucos ramos indesejados que surgirão na copada. Do terceiro ano em diante as podas tornam-se, além da condução da planta, também podas de frutificação.
Após a formação da copada as podas de condução são as mesmas das verificadas na ameixeira e pessegueiro, podendo ser conduzida em taça eliminando o pião central. Os ramos produtivos da macieira são:
- esporões – mais produtivos, são pequenos e com gemas florais, retirados somente se a planta apresentar um potencial excessivo de produção, pois os frutos seriam de baixa qualidade;
- brindilos – apresentam produção média, têm comprimento maior que os esporões, são finos e flexíveis, apresentam gemas florais e vegetativas;
- misto – têm gemas florais e vegetativas, apresentam uma baixa produção e são os mais podados.

Poda da Pereira

A pereira apresenta um sistema de crescimento muito agressivo no que diz respeito ao comprimento de seus ramos e a tendência que eles têm em crescer verticalmente. Por isso a condução da pereira deve aliar além das podas, um sistema de amarras de ramos visando a abertura da sua copa, o que aumentará a capacidade produtiva da planta, pois a incidência de raios solares no interior da copa de qualquer planta é essencial à sua frutificação.
Vamos priorizar o sistema de condução em taça em pomares domésticos, pois facilita os manejos fitossanitários e de colheita das frutas.
A pereira tem a capacidade de produzir em ramos de 1,2,3 ou 4 anos.
No primeiro ano eliminamos o pião central para favorecer a abertura da copa, eliminamos qualquer brotação abaixo das pernadas da copa, ramos entrecruzados, muito finos, paralelos e com crescimento muito vigoroso para cima, sempre visando a abertura da copa.


A partir do 2º ano, além das podas de condução e limpeza, e das amarrar dos ramos favorecendo uma abertura da copa, devemos nos preocupar com podas de frutificação.
Na pereira existem três tipos de ramos:
- mistos – ramos mais longos, com poucas gemas floríferas e muitas gemas vegetativas, são os mais podados.
- brindilos – são ramos mais curtos e finos que os mistos, possuem gemas floríferas nas pontas, não são podados.
- esporões – ramos mais curtos da planta, possuem crescimento vegetativo somente para formação do esporão do próximo ano, de resto somente produzem frutos.


Do 3º ano em diante, os procedimentos de poda são os mesmos, diferenciando somente que a abertura da copa já está satisfatória e não dependemos mais de amarras, somente mantemos a condução dos ramos para que fiquem inclinados aproximadamente a 60º, para que favoreça ao máximo a produção do ramo.

Poda da Videira

Para conhecermos as podas da videira necessariamente temos que conhecer os sistemas de sustentação das videiras.
Por serem plantas trepadeiras, o sistema de sustentação necessita de apoio, no caso artificial, para que possam produzir. Existem basicamente três tipos de condução das videiras:
- Espaldeira ou cerca


As mudas que serão plantadas em espaldeira devem ter no mínimo 1m de altura, plantadas entre os palanques e amarradas no 1º fio de arame serão podadas 20 cm acima da amarra. Este corte favorecerá as brotações dos ramos das gemas logo abaixo dele, dos quais são escolhidos dois que formarão as duas primeiras pernadas da planta que se fixará no 2º fio de arame. Já no primeiro ano de crescimento vegetativo, o restante das brotações são dispensadas, selecionando-se um pião central que continuará seu crescimento e servirá como base para a formação de um segundo par de pernadas da planta.



No segundo ano de vida da planta, faz-se a limpeza dos ramos indesejáveis que cresceram no período anterior, ou seja, aqueles com crescimento muito vigoroso, entrecruzados, doentes, etc; e no ramo central deixado para servir de base para a próxima pernada da planta, deixamos apenas as duas pernadas que completarão o sistema de sustentação da planta.


A partir do terceiro ano através das gemas dos ramos das quatro pernadas principais da planta é que surgirão os ramos produtivos. Tornam-se necessárias podas destes ramos para favorecer a frutificação da melhor maneira possível.
No sistema em espaldeira basicamente três tipos de podas são utilizadas, que são:
- poda curta a uma gema – deixar somente uma gema.


- poda curta a duas gemas – sempre existem dois ramos produtivos portanto são dois cortes feitos, um no ramo que cresceu no ano anterior, eliminando onde está a 1º gema da base ramo, o outro é feito no ramo que restou logo acima da 2º gema contando da base do ramo.


- poda longa – nos ramos que cresceram no ano anterior conta-se 6 a 10 gemas, na maioria dos casos escolhe-se a média – 8 gemas – e corta-se; daí brotarão 8 ramos que serão produtivos. Um procedimento imprescindível é de que após o corte o ramo deve ser arcado até atingir o arame inferior da espaldeira e amarrado neste para que favoreça a condução dos ramos da sua base não cresçam para dentro da planta e fiquem desordenados para a próxima poda, e também, para que os frutos que eles formarão não fiquem completamente sombreados e escondidos por ocasião da colheita e tratos culturais.




- Latada ou Pérgula
Neste sistema de sustentação são utilizados palanques com altura média de 2 m, em cima destes são fixados, e cruzados, arames lisos galvanizados.
Como a planta, necessariamente, tem que ser sustentada a uma altura de 2m ou mais, temos que conduzir a muda, que vem do comércio com 1m de altura, até a altura da latada. Para isto no plantio tutoramos a muda e procuramos conduzi-la até que atinja a altura desejada, aí sim é podada em sua haste única quando atinge 40cm a mais do que a altura da latada, ficando então com seu primeiro ramo deitado. Após este procedimento são iniciadas as podas conhecidas, a partir do segundo ano de crescimento quando a videira começa o sistema de produção de frutos.


Aqui são reconhecidas todos os tipos de podas, conforme o tipo de uva a ser utilizado e uma a mais que é a chamada poda mista que une as podas curtas 1 ou 2 gemas e poda longa num mesmo ramo:
- poda mista – este modo de podar os ramos une dois tipos de cortes, a curta a uma ou duas gemas mais a poda longa, num mesmo ramo produtivo.


- Semi-Latada ou Semi-Pérgula
Os programas de condução e podas deste sistema são rigorosamente os mesmos dos conhecidos no sistema em latada ou pérgula. O que diferencia os dois sistemas é de que este facilita muito os manejos de controle fitossanitário dos pomares e colheita dos frutos. Tanto este como o sistema em latada são utilizados em locais de alta umidade, afastando as uvas sensíveis a doenças do solo onde concentraria este problema.